Na festa, a Menina Azul foi confrontada pela versão atual da saia azul escura e da blusa branca, ora com outras cores e dimensões, extensivas ao cabelo embranquecido, que a perseguira: trocista, sarcástica e cruelmente desde a sua infância quando a esperava à esquina para assolar o cão, que se atirava a ela como se fosse um leão a tentar devorar um cordeiro.
Desta vez, era-lhe dirigido o foco de um telemóvel para ser produzida uma fotografia.
A Menina Azul pôs a mão à frente do rosto e pediu à figura agigantada pelo tempo que não o fizesse…
Mas…
O tempo também a fortalecera, por isso, aproximou-se e dirigiu-se-lhe, pedindo para apagar a foto, fitando-a, concluindo, assertiva:
” – Eu já não sou aquela menina!”
A interlocutora pareceu estremecer, talvez por que se sentiu arrancada do mito do seu pedestal, que lhe dera protagonismo ao longo dos anos, apesar de a Menina Azul ter estado sempre a seu lado e continuar solidária, sobretudo perante a despedida mais difícil que uma mãe pode experimentar, e continuar a chorar a sua dor, que assimilou como sua, pois nutria um sentimento particular pelo seu especial menino…
O mais belo foi, sem dúvida, a partilha de outras fotos da sua família, nomeadamente dos netos como se aliciasse a Menina Azul e preservassem a relação que mantiveram ao longo dos anos, não obstante a terrível memória da estimuladora da fera…
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